16 de dezembro de 2012

Em três acordes



 “A TAZ é uma espécie de rebelião que não confronta o Estado diretamente, uma operação de guerrilha que libera uma área (de terra, de tempo, de imaginação) e se dissolve para se re-fazer em outro lugar e outro momento, antes que o Estado possa esmagá-la. Uma vez que o Estado se preocupa primordialmente com a simulação, e não com a substância, a TAZ pode, em relativa paz e por um bom tempo, "ocupar" clandestinamente essas áreas e realizar seus propósitos festivos.” (cap. II)
– Hakim Bey; “TAZ – Zona Autônoma Temporária”

Quando os moleques brancos começaram a se esgueirar pelos bares dos negros atrás daquela música que contrariava tudo aquilo que sua sociedade pregava e impunha, quando as canções passaram a ser motivo para repressão violenta, exílios e mortes, quando os adolescentes descobrem que podem sentir-se vivos e que podem construir a si mesmos, quando os sons tornam-se tão tangíveis quanto a própria realidade e alcançam o cerne do ser... Bem, nesses momentos o rock é uma TAZ. O rock é um levante.
Mas o rock também é fake. O rock também se tornou instrumento de exercer a vaidade, de exercer a frustração, de causar a sádica satisfação do hedonismo egoísta, ele sempre foi banalizado e vendido como entorpecente e como estereótipo. Essa baboseira narcisista de embalagens brilhantes não é um levante. 
O rock só levante por poucos momentos, de tempos em tempos. O rock só alcança seu enorme poder de operar o levante quando ele opera onde os olhos não podem ver. O levante só pode ser visto depois que já aconteceu. Do contrário, ele acaba antes de começar.
Há pequenos momentos de liberdade absoluta escondidos debaixo do nariz do carcereiro.
Bem entre as grades da prisão.
Em três acordes.

O poder de unir o sentimento de todos num único sentimento coletivo, de desfazer a realidade e mostrar que pra ter outras realidades basta saber ter outros olhares.

O rock não é o único caminho para este levante da alma contra o eu-artifício-sintético que a aprisiona.
Há tantos caminhos quanto há passos e quanto há pessoas caminhando.
Mesmo assim, aqueles que temem o rock sabem que devem temê-lo mesmo. Pois quando ele acontece de maneira verdadeira ele ameaça tudo aquilo que não tem em si uma essência feita de paixão.
Ele ri das máscaras que inventamos para nos assustar. Ele desdenha de tudo o que nos parece seguro.
O rock é a personificação que o século XX criou para o inconformismo.
Que se danem os acomodados do rock, que o tratam como bolsas numa butique. O rock não deve ser correto e nem bonito. Ele deve ser apaixonado. O levante é paixão e catarse. A glória é a busca dos fracos. Dos vaidosos narcisos afogados em seus egos.
A busca dos fortes é somente por paixão. Por intensidade e por reforma. Uma busca que não está no que sai da boca e sim no que entra pelos ouvidos e alcança o espírito.
Em três acordes, às vezes.

Se você acha isso tudo baboseira... Que seja. Você merece. Não sabe o que está perdendo.

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Rock and Roll. O bom e velho.