Somos uma banda de rock.
Por mim, bastaria como descrição.
Mas, hoje em dia não se entende bem o que isso significa. Já foi repetido tantas vezes, por tanta gente, em tantas circunstâncias e tempos que... parece ter perdido o sentido. Sabe? Uma palavra que significa qualquer coisa ou todas as coisas ao mesmo tempo, na verdade não significa coisa alguma. Mas podemos re-significar o que quisermos. É o que fazemos a todo tempo – atribuir sentidos.
Eu também atribuo sentidos.
Citando dois caras que já morreram:
Dizia Raul Seixas – que viveu estas
palavras –, rock é um jeito de pensar, de andar, de agir, de fazer e viver
música, uma forma particular e, ao mesmo tempo, universal de amar, de odiar, de
sentir o doce e o amargo, de ficar triste e de experimentar o êxtase, um jeito
de ser imortal e de ser efêmero de uma só vez, de viver no inferno e encontrar
o paraíso, de errar, de acertar, de ser, de estar, de morrer... enfim, rock é
um jeito de estar vivo.
Já o velho alemão pirado tinha nos
proposto há mais de cem anos que a música é o grande catalisador das
experiências de transcendência do existir individual banal e cotidiano para sentir de
maneira profunda uma realidade essencialmente estética, coletiva, una e atemporal.
Estou falando de catarses coletivas,
epifanias, êxtases fantásticos e esse tipo de coisa, saca?
Rock é isso, cara.
A impressão que tenho é de que não se
acredita muito nisso, nos nossos tempos.
Mas eu acredito.
Não estou dizendo que todos estão
errados, veja bem; nunca descarto a possibilidade de estar eu mesmo errado,
pois creio radicalmente na ideia de que não há nesta vida nossa, tão estranha e
fascinante, nada cem por cento garantido. Talvez, nem a morte. E entender isso
pode te fazer voar – se você realmente sentir esta verdade até os ossos.
“E conhecereis a dúvida. E ela vos
libertará.”
De qualquer forma, percebo hoje uma
superficialização muito grande de tudo.
Tudo é banal demais e importante demais ao mesmo tempo. Um discurso de liberdade reveste nossas gaiolas. A etnia, a economia, a cultura, a orientação sexual, política, social, tudo é motivo para nos dividir em castas e gerar o "outro" onde deveria haver somente o "uno". Sem falar no esgotamento do novo por causa de uma necessidade obsessiva de gerar o novo o tempo todo. Em grandes quantidades. Pra, logo em seguida, descartar. E recomeçar o processo... É assim com tudo. Das artes à mídia, do pensamento ao lixo, das relações ao consumo...
Tudo é banal demais e importante demais ao mesmo tempo. Um discurso de liberdade reveste nossas gaiolas. A etnia, a economia, a cultura, a orientação sexual, política, social, tudo é motivo para nos dividir em castas e gerar o "outro" onde deveria haver somente o "uno". Sem falar no esgotamento do novo por causa de uma necessidade obsessiva de gerar o novo o tempo todo. Em grandes quantidades. Pra, logo em seguida, descartar. E recomeçar o processo... É assim com tudo. Das artes à mídia, do pensamento ao lixo, das relações ao consumo...
Todas as coisas são só do lado de fora.
Mas não vou nem entrar muito nesse mérito.
Na verdade, não adianta ficar
resmungando e se lamuriando.
Sou mais de pensar nas soluções, em vez
de pensar nos problemas.
Vivo conforme quero, do jeito que acredito, dentro do que posso.
Acho que é o que podemos fazer.
Só queria que quando eu disser “somos
uma banda de rock” você entenda que é disso tudo que eu estou falando.
Isso
tudo é o que significam estas palavras quando vêm da minha boca.
Pois não é o que temos.
Não é o que fazemos.
Não é onde ou como estamos.
Não é o que podemos ou deixamos de
poder.
É o que somos: uma banda de
rock.
o Vazio